Por que os leilões do Banco Central não conseguem derrubar o dólar
Entre quinta-feira (12/12) e terça (17/12), o Banco Central (BC) injetou no mercado US$ 12,8 bilhões. Desse total, US$ 5,8 bilhões foram colocados em vendas à vista, quando não há compromisso de recompra por parte do BC. Essas intervenções, contudo, não foram suficientes para aplacar o apetite dos investidores pela moeda americana. Com isso, o dólar manteve sua tendência de alta.
Na avaliação de Carla Beni, professora de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), o pequeno impacto que os leilões têm provocado no câmbio é uma indicação de que o mercado quer mais dólares. Ela observa que, em 20 de maio de 2020, o BC leiloou US$ 7 bilhões em um único dia, para que a moeda americana não chegasse a R$ 6,00.
Beni destaca que três fatores têm pressionado o câmbio – e encorpado a demanda por dólares. No lado externo, pesam elementos como a eleição do presidente Donald Trump, cuja condução da economia deve ser pautada pelo protecionismo, e os juros americanos, que continuam elevados e atraem investimentos em títulos do Tesouro do país, os Treasuries.
Do ponto de vista interno, a economista destaca o fato de o “mercado financeiro não estar gostando das mudanças tributárias na área de renda, além de atuar para recompor perdas”. “Há também um aumento da especulação, que tem peso maior do que qualquer outro fator”, diz. “Ele fugiu de qualquer racionalidade.”
Fiscal
Beni considera que a questão fiscal (que trata dos gastos e receitas do governo), a justificativa dada pelo mercado para a volatilidade do dólar, tem sido exagerada. “O fiscal exerce pressão sobre o dólar, mas não temos uma dívida que caminhe para 100% do Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo”, afirma.
Na análise de diversos analistas de mercado, no entanto, o fiscal conta como o principal fator de pressão sobre a moeda americana. “O estopim da alta foi a promessa do governo de entregar um pacote de corte de gastos robustos desde antes das eleições municipais”, diz Felipe Sant’ Anna, da Star Desk. “O mercado financeiro perdeu a paciência com isso e, quando o pacote veio, ficou aquém do que o governo havia sinalizado.”
Por fim, ainda há fatores sazonais de pressão sobre o dólar. No fim do ano, aumenta a remessa de dólares de empresas estrangeiras para suas sedes.
Como são os leilões
Os leilões de dólar são operações usadas pelo BC para garantir liquidez ao mercado de câmbio em momento de alta da moeda americana. Os dólares são oferecidos diretamente às instituições financeiras, como bancos e corretoras (num total de 13, no jargão “dealers de câmbio”), que operam no mercado primário. São elas que repassam a moeda americana para o mercado secundário.