Por delicadeza, Lula não perderá o poder de que tanto gosta
Somente Lula, e mesmo assim olhe lá, sabe com que cara emergirá seu governo da reforma ministerial programada para acontecer até o final deste mês, mas que poderá ficar para depois do carnaval, em março. As pessoas mais próximas de Lula que dizem saber, no máximo, fazem alguma ideia sujeita à confirmação futura.
A ideia que muitas delas fazem: Rui Costa (Casa Civil), Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), Fernando Haddad (Fazenda), Camilo Pena (Educação), Marina Silva (Meio Ambiente), Mauro Vieira (Itamaraty), Simone Tebet (Planejamento) e Jáder Barbalho Filho (Cidades) são imexíveis.
José Múcio Monteiro (Defesa) entrou para a galeria dos imexíveis porque pediu para sair e Lula não deixou. Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) não pensa em sair, nem Lula quer que ele saia. Mas se por acaso vier a pensar e pedir para sair, sairá. Lula quer Rodrigo Pacheco, ex-presidente do Senado, ao seu lado.
Verdade que gostaria de manter Alexandre Padilha como ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. Mas poderá transferi-lo para o Ministério da Saúde no lugar de Nísia Trindade e acomodar na vaga de Padilha algum nome do Centrão para cuidar das emendas parlamentares.
Os demais ministros são substituíveis, o que não quer dizer que a maioria deles será. Lula não tem histórico de promover amplas reformas nos seus governos. Costuma apegar-se aos auxiliares e a ir com eles até o fim. Lula, porém, sempre foi um pragmático e põe sua sobrevivência acima de tudo. Quem não põe?
“Par délicatesse J’ai perdu ma vie”, escreveu Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, poeta francês que da segunda metade do século XIX. “Por delicadeza eu perdi minha vida” são seus versos mais famosos, repetidos pelos que se socorrem deles para lamentar algo importante que perderam, ou reafirmar a disposição de não perder.
Na mais recente pesquisa Quaest, Lula perdeu popularidade entre homens e mulheres, em todas as regiões do país, em todas as faixas de renda e em todas as faixas etárias. A causa? A volta do fantasma da inflação e o aumento no preço dos alimentos. Pela primeira vez, a desaprovação de Lula superou a aprovação (49% a 47%).
É legítimo que Lula deseje melhorar o desempenho do seu governo e renová-lo também de olho na reeleição em 2026. Hoje, ele segue favorito na disputa por um novo mandato – a direita está dividida e sem um nome forte para enfrentá-lo. Mas há muito chão pela frente e o mundo anda muito imprevisível.
O estado da economia é que definirá a sorte de Lula, partindo-se do princípio de que a saúde e a idade avançada não pesarão tanto contra ele. A reforma ministerial não antecipará o realinhamento das forças políticas com vistas às próximas eleições, mas poderá facilitar a vida do governo dentro do Congresso. A conferir.
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