Operário que gasta 6h no transporte tem no ônibus seu pior pesadelo
São Paulo — O operador de máquinas Cícero da Silva, 53 anos, gasta seis horas por dia no transporte público de São Paulo, sendo três horas para ir, mais três para voltar, entre a casa no Jardim Ângela, na zona sul, e o trabalho em São Miguel Paulista, na zona leste. Tudo isso para seguir na empresa onde está há 20 anos. Para ele, o pior trecho da jornada é o ônibus lotado, por vias congestionadas, serpenteando os bairros pobres da sua vizinhança.
Cícero espera que saia do papel e entre em operação a expansão da Linha 5-Lilás até o Jardim Ângela, como prometido. Não eliminaria, mas encurtaria a viagem de ônibus. “Iria melhorar muito para mim. Economizaria uma hora e meia, duas horas, por aí. Aqui, no Capão Redondo, o difícil é o ônibus”, afirma.
Os ônibus representavam, em 2023, 22,5% do total de viagens motorizadas na Grande São Paulo, uma redução de 31,9% na comparação com 2017 (29,4%), segundo a pesquisa Origem e Destino do Metrô.
A peregrinação cotidiana de Cícero traz aquilo que números, gráficos e justificativas governamentais só conseguem, quando muito, vislumbrar: sente na pele de quem se espreme no transporte público para garantir o salário. Ele pega o primeiro ônibus por volta das 4h, já lotado, mesmo com a redução no número de viagens diárias totais na região metropolitana, mostrada pela pesquisa.
Dois pontos de ônibus nas proximidades da Estação Capão Redondo, onde a reportagem conversou com Cícero, dão conta de quantas pessoas seriam beneficiadas com a expansão da Linha 5-Lilás. Eles ficam na Avenida Prof. Dr. Telêmaco Hippolyto de Macedo Van Langendonck, nome tão longo quanto as filas que se formam à espera dos coletivos no início da noite. Por outro lado, se parte delas decidir pelo transporte individual, as ruas do bairro vão ficar ainda mais congestionadas, atrasando o retorno de quem segue no coletivo.
A diarista Edilaine Maria do Nascimento Barros, 42 anos, chega cansada do trabalho ao ponto final do metrô, ainda distante de casa, no Jardim Ângela.
Já passa das 20h e ela fica ao lado de outras dezenas de pessoas no ponto de ônibus, que está lotado e é pouco iluminado. “Só aqui, eu fico 40 minutos esperando para poder ir sentada. Hoje mesmo, fiquei na quarta fila”, diz. A quarta fila significa que só conseguiria embarcar para se acomodar em um assento no quarto ônibus — permitiu que outros passassem à frente para viajarem em pé.
A diarista também aguarda ansiosa a expansão da Linha 5 para diminuir o sofrimento no ônibus. “Tem dias que chegou 21h, 21h30. Se chegasse ao Ângela, seria mão na roda”, afirma.
O que dizem governo estadual e prefeitura
O governo estadual diz que a Linha 5-Lilás também será ampliada e ganhará mais 4,3 km de ramal, chegando a 24,3 km no total. “O início da operação também está previsto para 2028 e a linha ganhará mais duas estações: Comendador Sant’anna e Jardim Ângela, e mais de 150 mil passageiros serão beneficiados diariamente”, diz, em nota.
Entre outros projetos, o governo afirma, por meio da Secretaria de Parcerias em Investimentos, que, em 2024, lançou o programa SP nos Trilhos para incentivar a expansão do transporte de passageiros por ferrovias em todo o território paulista. “São mais de 40 projetos entre Trens Intercidades (TICs), veículos leves sobre trilhos (VLTs), trens urbanos e metrô. Ao todo, as iniciativas estão estimadas em R$ 194 bilhões em mais de 1 mil km de extensão de trilhos na Grande São Paulo, interior e litoral”, diz.
Já a administração municipal diz que o número de passageiros transportados por ônibus em São Paulo se mantém estável desde o fim da pandemia, com média de 7,3 milhões de passageiros/dia útil, entre 2022 e 2024. “Vale ressaltar que o item da pesquisa que trata de transporte por ônibus considera toda a movimentação da região metropolitana, englobando o transporte intermunicipal e o municipal das cidades do entorno, sistemas não administrados pela SPTrans”, afirma.
A prefeitura diz que implantou 54 km de faixas exclusivas na cidade desde 2021, “superando a meta de 50 km estabelecida no Programa de Metas para até o fim de 2024”.
“Atualmente, a cidade conta com 135,3 km de corredores e 590 km de faixas exclusivas para ônibus. Em renovação da frota, entre 2021 e 2024, foram incorporados 3,4 mil ônibus novos, com maior capacidade e, dos mais de 12 mil ônibus em operação diariamente na cidade, 92,6% possuem ar-condicionado. O Aquático-SP reduziu o tempo de travessia entre o Cantinho do Céu e o Mar Paulista, na Zona Sul, de 1h20 para 17 minutos e o Domingão Tarifa Zero já beneficiou mais de 189 milhões de passageiros. Além disso, São Paulo tem a maior frota de ônibus elétricos do país, com 631 veículos em operação”, afirma.
