Carrefour da França anuncia que não vai vender carne do Mercosul
Enquanto agricultores franceses fazem pressão pelo não fechamento do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, o gigante do varejo Carrefour se comprometeu a “não comercializar nenhuma carne do Mercosul”. Em uma carta enviada nesta quarta-feira (20/11) ao sindicato agrícola francês FNSEA, o CEO do grupo, Alexandre Bompard, apelou aos restaurantes a fazerem o mesmo.
Em uma carta dirigida a Arnaud Rousseau, presidente da FNSEA, Bompard diz que “em toda a França, ouvimos a consternação e a indignação dos agricultores diante da proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul”.
O presidente do segundo maior grupo varejista da França, atrás apenas do E.Leclerc, afirma que o Carrefour se compromete a “não comercializar qualquer carne do Mercosul”.
Questionado sobre os volumes em questão, o distribuidor especificou que 96% da carne bovina e suína que vende vêm da França. “Esperamos poder inspirar outros players do setor agroalimentar”, afirma Alexandre Bompard. “Apelo particularmente ao ramo dos restaurantes e alimentação fora de casa, que representam mais de 30% do consumo de carne na França – da qual 60% é importada – a aderirem ao nosso compromisso”, propõe.
Para os agricultores franceses, que fazem nesta quarta-feira o terceiro dia consecutivo de protestos no país, a agricultura francesa está ameaçada pelo acordo de livre comércio que a UE negocia com os países latino-americanos do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai). Eles denunciam condições de concorrência desleal, uma vez que os produtos oriundos do Mercosul não atendem aos mesmos padrões ambientais e sociais que na Europa, ou mesmo de saúde, em caso de falha nos controles.
Na segunda-feira (18), o lobby europeu dos supermercados, EuroCommerce, indicou em um comunicado de imprensa que fazia parte de 78 federações profissionais signatárias de um apelo para “acelerar a conclusão das negociações do acordo de livre comércio UE-Mercosul”, argumentando que isso “ajudaria a aliviar os desafios colocados pela instabilidade geopolítica e pelas perturbações na cadeia de abastecimento” alimentar.
O EuroCommerce conta, entre os seus membros, com a federação patronal dos supermercados franceses, a FCD, da qual Alexandre Bompard é presidente.
Neste terceiro dia de manifestações de agricultores, o sindicato Coordenação Rural (CR) conversou com o primeiro-ministro francês, Michel Barnier. “Vocês têm um primeiro-ministro que conhece e respeita os agricultores. Farei tudo o que estiver ao meu alcance no orçamento para cumprir os numerosos compromissos que foram assumidos, ponto por ponto”, declarou o chefe do governo.
Barnier também telefonou ao presidente da FNSEA, Arnaud Rousseau, para garantir que está aberto ao diálogo para discutir “as respostas a serem dadas”, reafirmando que todas as promessas seriam cumpridas.
Os agricultores decidiram levantar o bloqueio na autoestrada A9 na fronteira espanhola, instalado na terça-feira. Porém, menos de um ano depois de uma mobilização histórica no país, os sindicatos acreditam não terem feito progressos suficientes.
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