Reinventar o capitalismo? (por Antônio Carlos de Medeiros)

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Deu no New York Times: permanece crescente a formação de monopólios na economia americana. É tendência de várias décadas. Na edição do último 21 de julho, German Lopez mostra que apenas 1% das corporações detém 97% das ações das empresas americanas, considerando-se o setor de manufaturas, o setor financeiro e o setor de serviços.

É o capitalismo monopolista em seu auge. Esta tendência é mundial.  Acentuada pela Era do monopólio de Big Techs – a Alphabet, a Amazon, a Meta, a Apple, e a Microsoft. Monopólios, como se sabe, diminuem a competição por preços mais baixos e por produtos de melhor qualidade. Prejudicam os consumidores. Provocam desigualdades sociais.

Quase como um corolário do avanço dos monopólios, é também crescente os riscos do avanço da “financeirização” do mundo. Trata-se do fato de que os mercados financeiro e imobiliário crescem mais rápido do que a economia “real” (a economia produtiva). A financeirização do capitalismo alimenta uma indústria de fundos financeiros que estimulam o rentismo, e não os investimentos produtivos em áreas estratégicas com efeitos multiplicadores na economia.

Neste sentido, a financeirização é regressiva, do ponto de vista da riqueza social e da prosperidade. Um círculo vicioso que vai “matar” o capitalismo. Estima-se que os 500+ do ranking da Fortune destinaram recentemente US$ 5 trilhões para recompra de ações. A consultoria McKinsey estima que desde 2000 o estoque mundial da riqueza em papel saltou para cerca de US$ 160 trilhões!

Para Gillian Tett, este estoque de riqueza em papel (o preço especulativo e não realizado de todos os ativos financeiros) reflete em parte o crescimento econômico real. “Mas decorre principalmente de um grande aumento da dívida global e da oferta de dinheiro”.  A McKinsey estima que “para cada dólar de investimento global feito desde 2000, cerca de US$ 1,90 em dívida foi acrescentado. Em 2020 e 2021 isso acelerou para US$ 3,40 para cada US$ 1 de investimento líquido”.

A resultante foi a elevação do valor presumido de todos os ativos globais, em relação ao PIB, de cerca de 470% do PIB mundial em 2000 para mais de 600% hoje, diz Tett. “Com os mercados imobiliário e de ações crescendo mais rápido que a economia real, para um grau verdadeiramente notável (US$ 160 trilhões)”.

Tudo somado, o avanço do capitalismo monopolista estimula e é estimulado pelo capitalismo financeiro. Irmãos siameses, eles estimulam as desigualdades, que estimulam a queda do mercado de consumo. A resultante tem sido o baixo crescimento mundial.

O capitalismo precisa se reinventar outra vez. A chave, sabemos, é o aumento vigoroso da produtividade e dos investimentos produtivos com efeitos multiplicadores na economia real.

A premissa da produtividade é um choque de educação profissionalizante e de ciência & tecnologia e inovação. A premissa dos investimentos produtivos é a adequação da agenda de investimentos à agenda ESG e à nova demografia mundial.

É maior a faixa de idosos e é crescente a participação das mulheres. Assim como continua crescente o peso do setor serviços nas economias, agora em novo formato transversal.

Enquanto isto, o “novo normal” tem sido o baixo crescimento mundial, combinado com novo patamar de inflação mais alta e de taxas de juros mais altas e resilientes. Com preços de ativos que nem sempre sobem. Neste “novo normal”, a formação da riqueza não necessariamente resulta em prosperidade.

Uma nova Agenda para o Brasil precisa ser formulada e praticada neste contexto.

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

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