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Conheça homens do DF que sonhavam com a paternidade e decidiram adotar

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Wesley Messias, 43 anos, passou por um processo de quatro anos de “gestação”. Em 2018, procurou a Justiça para adotar uma criança. Pai solo, ele encara todos os dias os desafios de criar sozinho uma criança de 12 anos. Assim como ele, Emerson também sonhava com a paternidade, mas tinha receio se daria conta. Neste domingo (13/8), Emerson comemora o primeiro Dia dos Pais com a chegada de um bebê de cinco meses.

Eles não são a maioria. Neste ano, das 157 famílias habilitadas para adoção no Distrito Federal, apenas sete são de casais homoafetivos masculinos e um só é homem solteiro, que se encaixaria na denominação “pai solo”. Os dados são da 1ª Vara da Infância e da Juventude, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).

O Metrópoles ouviu histórias emocionantes de homens que tinham vontade em ser pai e que realizaram esse sonho ao adotar.

“‘E a mãe?”, essa é uma das perguntas que Wesley mais ouve. Até para fazer a matrícula em escolas, foi solicitado o preenchimento do nome da figura materna, sem haver qualquer espaço para outro responsável. “Eu disse que eles não tinham mãe, mas eles achavam que eu estava menosprezando algum ex-relacionamento. Tive de brigar para que colocasse só o meu nome”, relata.


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O diretor artístico e coreógrafo conta que quando começou o processo para adotar o Isaque, com 8 anos à época, deu preferência a crianças mais velhas. O menino tinha um irmão menor com oito famílias interessadas, mas que nenhum deles queria a criança mais crescidinha. Wesley quis e começou o preparo. Os dois, inicialmente, trocaram cartas para se conhecer. Depois, se ligaram para ouvir a voz. Até que chegou o tão esperado dia da visita presencial.

“Existe uma cultura que é incentivada pela escolas de que o pai pode ser ausente, mas a mãe não. Eu sou um pai que participo de tudo dos meus filhos”. A família é composta por três membros, que inclui também Kauã Christian, 19 anos, que foi entregue pela mãe a Wesley no mesmo ano em que adotou Isaque.

“Eu sempre tive isso na cabeça, que eu iria adotar. Eu nunca romantizei, idealizei que eu iria casar, ter alguém do meu lado e construir uma casa e depois teria filhos, biológicos”, detalhou. “É importante que a pessoa entenda o que é adotar uma criança mais velha, que é entender que é um ser humano com história e agora terá outras histórias também e fazer vínculos”.

No primeiro Dia dos Pais, Isaque e Kauã, compraram um presente para Wesley . Isaque ainda fez um desenho. “Guardo todos os desenhos, todas as cartas, as notas, guardo tudo do meu filho”.

Apesar do longo processo de adoção, a percepção de ser pai veio mesmo no dia a dia. “Foi quando ajudei no dever de casa, cuidei dele doente. É incrível, porque quando a criança chega você sabe que é seu filho”.

Dois pais

O processo de adoção é longo, mas a chegada é de repente. A partir do momento que o trâmite avança, pais podem ser comunicados a qualquer momento que há uma criança no perfil desejado e responder em até 24 horas se há interesse ou não. Em um dia, tudo muda. Foi assim com o casal Emerson e João Ricardo Gonçalves, 50 anos e  34 anos.

O administrador Emerson já estava na fila para adoção quando conheceu e começou a se envolver com o técnico de informática João Ricardo. Com a pandemia, eles anteciparam e decidiram morar juntos, deixando claro o objetivo de serem pais. Após três anos aguardando uma criança, Emerson recebe uma ligação de que o bebê Levy estaria disponível para o casal e teriam até o dia seguinte para confirmar.

“Eu pensava se ia dar conta. A criação está sempre associada a uma mulher e eu fui um homem da década de 1990. Sou de uma época em que não existia esse direito”. Apenas em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a união homoafetiva como um núcleo familiar como qualquer outro.


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O caso chegou ao STF após o Ministério Público do Paraná questionar o pedido de adoção feito por um casal em 2006.

“É uma adrenalina, quando eu trouxe meu filho para casa, pus em um berço e olhava. Eu não sei nem o que dizer, passei três dias chorando”, lembra Emerson. Ele detalha que a criação de um bebê é muito associada à presença feminina. “Eu tenho um aplicativo que tem lá ‘para as mamães’. Culturalmente, as coisas são voltadas para uma mãe. E no meu caso são dois pais”, destaca.

“Socialmente é mais aceito que a mulher tenha a função de um pai do que o pai com a função de mãe”, complementa João Ricardo. “Na hora de amamentar um bebê de colo, por exemplo, esperam uma criança no colo de uma mãe”. Para eles, o desafio hoje é viver com o filho em ambientes saudáveis e longe da discriminação.

Nesse primeiro dia dos pais, os dois decidiram almoçar juntos em família, com alguns amigos, assistir ao culto na Igreja Anglicana que frequentam e na qual se casaram. “Quando meu filho veio para casa, eu só conseguia rir.

De acordo com dados da 1ª Vara da Infância e da Juventude do DF, há atualmente 540 famílias habilitadas para acolher crianças e adolescentes. O TJDFT informou que não há dados dos anos anteriores de quantos homens ou casais homoafetivos masculinos ingressaram no cadastro de adoção. Também não tem-se dados de quantos estão no cadastro atualmente.

Esse levantamento é feito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão gestor do Sistema Nacional de Adoção (SNA). O Metrópoles procurou o CNJ na quarta-feira (9/8) questionando as adoções feitas no país e no DF por apenas homens, mas o conselho não respondeu às demandas da reportagem.

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