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Aos 50 anos, Cine Drive-In de Brasília se reinventa com nova geração

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Numa noite qualquer, seja no meio ou no final de semana, um cinema é sempre uma boa pedida. Entretanto, a experiência não precisa se resumir a sentar numa cadeira em uma sala escura. Ao menos para os brasilienses, que podem (ainda) confirar um filme de dentro do carro, sentado em uma cadeira ao ar-livre, ou até no porta-malas com um cobertor. Tudo isso diante de uma tela de 312m².

Aqui em Brasília, dentro do autódromo, está o Cine Drive-In, que, após uma aposta do modelo durante a pandemia de Covid-19, voltou a ser um dos únicos em funcionamento no Brasil.  O local, que completa 50 anos em 2023, segue como uma das formas de lazer da população do DF.


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Marta Fagundes é a sócia-administradora do local e segue tocando o negócio desde 1975. A empresária, entretanto, contou que não foi fácil manter tudo funcionando por diversos motivos, sejam eles, novas tecnologias e operacionalidades.

“As películas demoravam para chegar e as pessoas reclamavam. Elas iam para o cinema porque eu tinha que esperar porque era uma película. Os clientes reclamavam: ‘Você só passa filme que já reprisou, que ninguém quer mais ver”, explicou Marta, que contou que, apesar do DVD, Blu-Ray, streaming… As pessoas não deixaram de lado a sensação de ir ao cinema.

“Tudo bem que você pode estar na sua casa, mas dá sono, você vai a cozinha e acaba se desconcentrando muito no filme”, declarou, relatando que lutou muito para manter o Drive-In aberto.

“Eu lutei muito. A minha família fala que foi teimosia, eu briguei por esse cinema. Quando eu vi os Drive-Ins fechando, eu falei: ‘Eu acredito no potencial desse cinema, que é um cinema de um estilo diferente’”, disse, acrescentando que o sucesso também está presente na localização do espaço, que fica no centro da cidade.

Prestes a completar 50 anos, o Cine Drive-In continua com um movimento de dar inveja e que chama a atenção de estúdios. Nos período de férias, por exemplo, a média chega a 3.000 carros por mês. Em agosto, por exemplo, esse número cai, chegando a 50, 60 carros durante os dias de semana e 100 a 120 aos finais de semana – o espaço contempla até 400 automóveis. O público se divide entre famílias, universitários e pessoas mais velhas. Marta aproveitou para relembrar o que ouviu da Universal, na ocasião da exibição do filme do Super Mário.

Elizabeth Jerônimo, 23, e Laenny Fernandes, 23, transformaram o Drive-In em uma tradição

“‘Oh cineminha para dar dinheiro esse Drive-In’. As pessoas vinham muito mais aqui do que no cinema fechado e a gente tinha muito público”, declarou. Nos dias de hoje, inclusive, o Cine Drive-In conta com um projetor digital – o que coloca no espaço a possibilidade de lançar os principais blockbusters do momento.

Quando questionada sobre a vida londa do Cine Drive-In, Marta acredita que o estabelecimento de Brasília ainda está em pé por conta de sua insistência.

“Temos uma limitação de sessões, só pode passar filme no escuro. Um shopping passa o filme desde meio-dia até a noite. Eu passo filme de 18h até 00h, no máximo 6h, a metade do que um cinema no shopping pode passar. Agora, eu provei para a distribuidora que o Drive-In poderia ser melhor do que uma sala de cinema. Porque, em uma única sessão, eu coloquei 700 pessoas.

Experiência no local

O Cine Drive-In continua charmoso e com tudo que é possível para te deixar confortável e tranquilo para curtir uma sessão. A primeira exibição começa às 18h, quando o sol se alterna com a lua para abrir a noite brasiliense. Nos primeiros minutos, a luminosidade pode atrapalhar, mas nada que estrague a experiência do filme.

No local, a professora Elizabeth Jerônimo, 23, e a estudante Laenny Fernandes, 23, estiveram no Cine Drive-In e estavam preparadas. Na capota de uma caminhonete, improvisaram um espaço para deitar. “A gente costuma vir em ocasiões especiais. É o mês do aniversário dela e do meu”, declaram.

As jovens ainda contaram o que as leva a frequentar o local. “É poder fazer alguma coisa que, de fato, é diferente, é ao ar livre, resgata essa nostalgia e também virou uma tradição nossa. Querendo ou não, no cinema está todo mundo igual, vestido igual, do mesmo jeito, você não pode conversar. Aqui você assisti três filmes, mata a saudade e vai embora”, opinaram.

O dançarino Sintra Rodrigues, 29, e a barista Clau Costa, 26, passaram a ir ao local quando se conheceram e apostam na comodidade

O dançarino Sintra Rodrigues, 29, e a barista Clau Costa, 26, passaram a ir ao local quando se conheceram e apostam no conforto. “Eu gosto da comodidade e eu também fumo e tudo mais. Eu gosto de ficar conversando durante o filme e, é mais confortável mesmo, tranquilo e dá para assistir a várias sessões”, contou.

Naquela oportunidade, Sintra e Clau assistiram ao filme da Barbie e iam ver uma parte de Mega Tubarão 2, que começaria na sequência.

A pedagoga Tatiana Soares esteve no local pela primeira vez e também aproveitou para assistir os dois filmes. “Quero aproveitar para conhecer também”. O que mais chamou a atenção da educadora foi o conforto: “De estar tranquila, de estar à vontade, porque no cinema é bem apertadinho, um ao lado do outro, aqui não, você está no seu carro, do jeito que você quiser”.

E para quem tem dúvidas, assim como Tatiana teve, o áudio do filme é exibido no rádio, dentro de seu carro, onde é possível controlar o volume. O Metrópoles testou a tecnologia e comprova que funciona bem.

O Cine Drive-In ainda oferece um local para comprar bebida e comida. Para pedir, é só sinalizar com o farolete e o garçom vai até o carro.

Pandemia

Durante a pandemia do novo coronavírus, diversos Drive-Ins abriram as portas e passaram a funcionar em diversos estados do Brasil. Entretanto, a maioria fechou as portas. Marta contou que o seu estabelecimento continua funcionando por estar totalmente regulamentado junto à Ancine e com os estúdios.

O período também fez com que o cinema passasse a compor a sua renda com outras atividades. O Drive-In passou a sediar casamentos, festas de formatura, escola de luta e balé. Entretanto, isso gerou uma reclamação dos cinéfilos e fez com que a programação fosse mesclada, sempre com um distanciamento social.

Projetor digital e o Cine Drive-In

O projetor digital do Cine Drive-In foi inaugurado justamente com um filme sobre o local. O cineasta Iberê Carvalho gravou o seu primeiro longa por lá. Assim como para o cinema, para o diretor, esse foi um momento marcante.

“A minha relação com o Cine Drive-In de Brasília é muito especial e muito eterna porque foi onde eu filmei o meu primeiro longa-metragem. Eu tenho uma relação com ele muito afetiva, que vem lá da infância, de quando meu pai levava a gente lá. Eu me sinto até padrinho assim, sabe? Estava muito ameaçado de fechar e eu gosto de pensar que o nosso projeto contribuiu com a divulgação do Drive-In”, afirmou. Assim como seu pai fazia, Iberê também costuma ir ao Drive-In com seu filho, que hoje tem 9 anos.

Iberê Carvalho fez seu primeiro filme no Drive-In

Para o cineasta, há grandes diferenças entre a sessão em uma sala convencional e no Drive-In. “A principal diferença é a experiência mesmo que você vive ao optar pelo Cine Drive-In, seja optar por ficar dentro do carro, seja sentar em umas cadeirinhas do lado de fora, você vive uma experiência mais individualizada, com seu grupo, com a sua família, com o seu casal, sob o céu, as estrelas”, disse.

Para Iberê, o Cine Drive-In se encontra em um lugar perfeito e que não está sujeito à especulação imobiliária. “Nas outras cidades, espaços antes destinados aos Drive-Ins, que eram no centro ou perto de bairros nobres, foram sendo almejados para construções mais lucrativas”, pontuou.

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